Em 2024 escreva para partilhar, mas também para aprender | Editorial jan24

Em 2024 escreva para partilhar, mas também para aprender | Editorial jan24

A prática de escrever – e de escrever sobre temas técnicos, no de-fora-a-fora - não é apenas um ato altruísta de partilha de conhecimento, é em si um exercício de reflexão pessoal, de aprendizagem adicional e consolidação do que sabemos. E altamente recompensador quando lançado na plataforma e disparado para as redes sociais, gerando feedback e incentivando a que continuemos. No caminho deixamos sementes noutros, expandimos o conhecimento de outros, incentivamos e contagiamos outros, e alargamos a nossa rede.

É um exercício fácil? Há tempos alguém me dizia: “para si é fácil, que está na academia”. Ora, estar na academia não nos torna especiais na escrita. Porque a escrita académica, em geral, não é produzida para a generalidade das pessoas lerem. Infelizmente. Mas no de-fora-a-fora os textos lêem-se, compreendem-se, porque são escritos de forma simples, direta, com linguagem corrente.

Escrever parece sempre mais difícil antes de se começar. Quando se começa, quando se vê o texto crescer, quando nos apanhamos a sorrir para o teclado com uma ideia nova, quando relemos e apreciamos a forma que toma, tudo se torna mais fácil. E depois de escrever o primeiro, de se ver que gera interesse noutros, e que, por vezes, é o início de conversas, fica a boa experiência e a vontade de voltar a fazê-lo.

Quando escrevo, reflito às vezes alguns dias sobre possíveis alternativas, e quando me decido por um foco, dou-me a liberdade de escrever alguns parágrafos sobre o assunto, sem grande preocupação de estilo, com frequência faço pesquisa, junto as melhores ideias do que pesquisei, releio e aproveito para editar.

É raro escrever sem procurar aprender mais sobre o assunto quando me proponho um tema. Por isso, ao escrever aprendo sempre mais um pouco. Além disso, porque para escrever tenho de organizar minimamente as ideias, esse esforço de explicitação do que sei, expande e transforma o conhecimento que eu tinha antes.

Sei que hoje a generalidade das pessoas, no seu dia-a-dia, lê pouco e o que lê são textos que não são longos, porque a vida – e a vontade – não dá para mais. Por isso, quando escrevo no de-fora-a-fora procuro fazer um conjunto de coisas que poderão, eventualmente, também funcionar para si:

1º Procuro, primeiro, escolher um tema que desperte interesse, um problema social ou uma forma de o resolver (ou ambos). Ou, simplesmente, algo que me ocupa a mente nos últimos tempos e que eu gostaria que se tornasse um tema a discutir.

2º Procuro incluir no texto conteúdo que seja útil. A utilidade pode significar partilhar conceitos, frameworks, soluções, que outros possam usar no seu dia-a-dia no contexto da resolução de problemas, ou que pelo menos sejam suficientemente interessantes para que leve os outros a refletir.

3º Procuro ser breve. Condensar no mínimo número de palavras aquilo que quero dizer. E se numa primeira versão o texto se torna longo, revisões seguintes servem para o encurtar. No de-fora-a-fora o valor indicativo é de 750 palavras.

4º Não posso esquecer que tenho de ter um primeiro parágrafo que seja um bom teaser, que realmente dê ao leitor vontade de ler o resto – escrevo-o normalmente quando já tenho o texto todo escrito.

5º Faço por imprimir um certo ritmo ao texto, que permita que o leitor seja embalado por esse ritmo – por isso, interiormente, leio o texto várias vezes, e eu tenho de sentir esse ritmo. Se não sinto, edito até que eu goste do texto e do ritmo da leitura.

Convivi com ingleses durante vários anos, enquanto progredia nos meus estudos. A maioria deles escrevia diários, pessoais e profissionais. Quase diariamente, registavam entradas, nem que fossem pequenas reflexões. Escrever era/é parte da vida. Surpreendeu-me o hábito. E aprendi muito.

Não hesite. Escreva.