Hoje, as pessoas vivem mais de 80 anos, graças aos avanços na medicina e na qualidade de vida, mas o desafio é garantir que estes anos extra sejam vividos com saúde, autonomia e propósito, e não apenas com mais tempo de vida. A ideia é que, ao retardar o envelhecimento biológico e promover uma longevidade saudável, podemos gerar benefícios económicos, sociais e pessoais, tornando a vida mais produtiva e com menos custos.
A atual abordagem científica ao envelhecimento está a mudar a forma como lidamos com esta fase da vida. Em vez de se focar apenas no combate a doenças específicas, como por exemplo, o cancro ou o Alzheimer, os investigadores estão a estudar os processos biológicos que estão na origem de várias dessas doenças. O objetivo é retardar a deterioração do corpo como um todo, o que pode ajudar a reduzir muitas doenças que afetam a qualidade de vida na velhice. Os avanços estão a abrir caminho para intervenções que, no futuro, podem promover uma medicina preventiva para envelhecer com mais saúde e autonomia, permitindo viver mais tempo de forma ativa, criativa e realizada.
Justiça, equidade e vontade política
A promessa de uma vida mais longa e saudável depende não só de avanços científicos; exige uma estratégia política e ética. Para que os benefícios da longevidade sejam acessíveis a todos, é preciso investir em investigação, políticas públicas de prevenção e uma mudança cultural que combata preconceitos contra a velhice e o idadismo.
Um dos grandes desafios é a desigualdade: atualmente, pessoas com menos recursos vivem menos tempo do que as mais privilegiadas, o que pode aprofundar as desigualdades sociais. Portanto, falar de longevidade também é falar de justiça, de equidade e da vontade coletiva de construir um futuro mais justo.
Redesenhar o contrato social
Para aproveitar ao máximo o aumento da longevidade, é preciso repensar as nossas estruturas sociais de trabalho e proteção, para além de construir uma nova narrativa cultural sobre o envelhecimento. Isso inclui questionar se faz sentido haver uma reforma obrigatória aos 66 anos. E também se devem colocar outras questões: Como organizar a aprendizagem ao longo da vida? Como organizar o trabalho flexível? E a participação social?
A longevidade deve promover uma vida mais justa, sustentável e solidária, onde o bem-estar seja distribuído ao longo de toda a vida, não só em uma fase específica. Além disso, é importante romper com estereótipos negativos sobre a velhice, reconhecendo sua diversidade, experiência e contribuição para a sociedade.
Aproveitar a longevidade é uma oportunidade coletiva que exige planeamento, ação e visão de futuro. Se for feito corretamente, pode representar uma revolução positiva do século XXI.
Redesenhar o contrato social representa uma perspetiva intergeracional que permita construir vidas mais solidárias, onde a sociedade se reinventa para desenhar vidas onde o bem-estar não está só numa única fase de vida.
Um outro olhar sobre a longevidade
Ainda há tempo para construir um futuro onde a longevidade seja um benefício para todos, conquistado com esforço, ética e vontade política.
Além das políticas, é crucial uma nova narrativa cultural relativamente aos mais velhos, onde não há lugar para os antigos e ultrapassados estereótipos onde ser velho significava ser dependente, pobre e doente.
A velhice é tão plural como qualquer fase de vida. A sociedade tem de dar espaço e voz aos “novos” velhos que se apresentam como uma enorme riqueza e um ativo para a sociedade.