Contudo, as mudanças dos últimos anos - ao nível tecnológico, humano e cultural - exigem que as organizações procurem novas formas de olhar para o significado de ser produtivo. É necessário deixar de se olhar para a produtividade como sinónimo de rotinas exaustivas, muitas horas de trabalho, multitasking, ocupação constante e ausência de tempo para pausas.
Enquanto Psicóloga, deparo-me frequentemente com pessoas em situação de stress e problemas de saúde psicológica relacionados com o trabalho. Pessoas que não se sentem apoiadas nem valorizadas. Pessoas que têm dificuldade em concentrar-se, e não têm motivação matinal para o trabalho. Pessoas que não estão alinhadas com as políticas das organizações e sentem falta de flexibilidade.
Estes fatores levam a outros problemas de saúde psicológica como ansiedade, depressão ou burnout. Causam pressão, incerteza e até sentimentos de culpa. Mas levam também ao desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional e comprometem o desempenho dos restantes papéis sociais que as pessoas assumem no seu dia-a-dia.
Torna-se, assim, essencial criar contextos laborais mais equilibrados. É necessário adotar práticas organizacionais mais eficientes e promover rotinas de trabalho mais leves, saudáveis e orientadas para resultados reais.
Felizmente, há empresas que já estão a dar o exemplo. A Microsoft, a Buffer ou a Dropbox adotaram semanas de trabalho de quatro dias, modelos híbridos, horários flexíveis e políticas de bem-estar. No setor social, organizações como a Ashoka, a IDEO.org ou a La Bolina também repensam a produtividade com foco no impacto humano e comunitário. Em Portugal, empresas como a Bosch Securiy Systems S.A. ou a Câmara Municipal de Cascais destacam-se por promoverem ambientes de trabalho flexível, saudáveis e centrados na autonomia e na confiança.
Estas entidades deixaram de parte os mitos que este tipo de regalias são apenas encargos financeiros sem retorno ou que promovem a procrastinação. Os resultados demonstram o contrário.
Tenho a oportunidade (e o privilégio) de trabalhar numa organização que valoriza a produtividade – a IRIS Incubadora de Inovação Social. Uma organização que define objetivos claros, comunica metas realistas e clarifica as prioridades. Uma organização clean, com um espaço organizado, que evita ambientes distrativos e cria períodos exclusivos de foco. Na IRIS incentivam-se jornadas de trabalho de 35h semanais, com foco em tarefas únicas e interrupções mínimas, assim como implementam tardes livres às sextas-feiras durante o verão (entre outras medidas). A IRIS foi reconhecida, em 2024, pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, como um local de trabalho saudável, no âmbito no Prémio Healthy Workplaces – Locais de Trabalho Saudáveis. Um prémio que reconhece e distingue organizações portuguesas que promovem a segurança, bem-estar e saúde física e psicológica. Que privilégio é trabalhar num local que olha para a saúde mental e qualidade de vida de quem faz tudo acontecer.
Estes exemplos de boas práticas não só aumentam o foco, produtividade e a eficiência, como valorizam o equilíbrio emocional dos colaboradores, promovem a confiança e a autonomia dos mesmos. Estas organizações caminham para uma produtividade mais humana, saudável e eficaz.
Se queres melhorar a tua produtividade podes priorizar tarefas, definir metas claras e específicas ou procurar técnicas de foco. Para além disso, deves manter o teu local de trabalho organizado, eliminar distrações e cuidar da tua energia (uma boa noite de sono, alimentação saudável e exercício físico regular fazem toda a diferença!). Na tua organização certifica-te que crias uma cultura de confiança e autonomia, organizas processos e fluxos de trabalho, melhoras a comunicação interna e investes num clima organizacional saudável.
Repensar o conceito de produtividade é urgente – não se trata de fazer mais em menos tempo, mas de fazer melhor, com propósito, motivação e bem-estar.
