O modelo de governança é um modelo de relação transparente, eficiente, responsável e de prestação de contas a todos os stakeholders organizacionais. Um modelo de governança é, por isso, um conjunto de estruturas e contratos de autoridade e fiscalização da sua atividade tendo por objetivo assegurar que uma organização estabeleça e concretize, eficaz e eficientemente, atividades e relações contratuais consentâneas com os fins que estão subjacentes à sua existência.
Na prática, o modelo de governança garante, em primeira instância, uma separação clara entre governo, gestão e fiscalização de forma que sejam evitados potenciais conflitos de interesse que possam colocar em causa a missão organizacional (mission drift), as relações com stakeholders (societal goodwill e reputação) e que o modelo de negócios deixe de servir o propósito organizacional. A reflexão sobre os modelos de governança não é simples porque coloca em causa crenças e ortodoxias organizacionais cristalizadas e consolidadas ao longo de décadas. Mas é igualmente um exercício de crescimento organizacional.
Para que essa reflexão aproveite a quem dirige estas organizações, proponho o seguinte conjunto de questões estratégicas ao nível organizacional:
. Será que a organização que lidero está em linha com as principais boas práticas de governança aplicadas ao sector? Esta análise implica, necessariamente, um exercício de avaliação profunda, o mais participada e holística possível, e deve ter como consequência um plano de ação que dele resulte, com prioridades bem definidas. Para o efeito, sugerimos a ferramenta de autodiagnóstico (disponível brevemente) para organizações com missão social e/ou ambiental lançada recentemente pela Estrutura de Missão Portugal Inovação Social em parceria com o IES-Social Business School.
. Será que o modelo de governança atual ou futuro respeita os princípios, a cultura organizacional, a missão e o negócio, assim como é capaz de acomodar os principais interesses da comunidade e dos stakeholders que serve? Por exemplo, será necessário criar um Conselho Consultivo que reflita estes interesses potencialmente divergentes? Para o efeito, é particularmente importante recorrer a benchmarks diversos de organizações similares, como se pode aprender em várias fontes;
. Será este o momento oportuno para levar a cabo uma mudança estrutural na organização que lidero? Para este efeito, é importante perceber se há um problema urgente a resolver no imediato, se existem os recursos necessários para implementar esta mudança e se a liderança está verdadeiramente comprometida com ela.
Tipicamente, um modelo de governança bem estruturado leva a uma separação clara entre Governo (Conselho de Administração ou Direção Estatutária) e Gestão (Direção Executiva ou Coordenação Geral). A sua concretização em organizações com missão social e/ou ambiental nem sempre é fácil pela dificuldade em alinhar a gestão com as prioridades do governo e com o propósito organizacional, pela natureza muitas vezes democráticas destas organizações. Esta alteração é, no entanto, absolutamente essencial para que as organizações sejam capazes de cumprir a sua missão de forma eficiente e garantir a sustentabilidade do seu negócio.
"um modelo de governança bem estruturado leva a uma separação clara entre Governo (Conselho de Administração ou Direção Estatutária) e Gestão (Direção Executiva ou Coordenação Geral)"
Finalmente, importa sublinhar que os grandes doadores nacionais e internacionais estão cada vez mais atentos e interessados em financiar organizações sociais e/ou ambientais com uma missão clara, objetivos de impacto bem definidos que alinhem a gestão e o governo, capacidade estrutural para os atingir e boas práticas de governança que lhes assegurem confiança a longo prazo. Nesta perspetiva, o investimento num modelo de governança bem estruturado não é um custo nem uma teimosia, é um investimento incontornável. O investimento na criação de um mundo melhor, neste caso, implica apenas sermos capazes de questionar as nossas próprias ortodoxias.