De que mudança falamos? Mudar a sustentabilidade das organizações sociais.
Num quadro económico e social onde as organizações sociais são chamadas a intervir cada vez com maior frequência e com mais intensidade, continua a ouvir-se dizer que “aqui fazemos omeletes sem ovos”! Este é o ponto a mudar. Queremos contribuir para empoderar as organizações sociais com boas estratégias e as melhores práticas de gestão. Não é justo, nem será eficiente, que o setor social continue a fazer “omeletes sem ovos”, e por isso, além de propor a mudança, vamos contribuir para a sua implementação.
De acordo com os dados do relatório “Portugal, Balanço Social 2022”, em 2020, a taxa de risco de pobreza em Portugal subiu para 18,4, um aumento de 2,2 pontos percentuais em relação a 2019 e acima da média da EU, e o setor da economia social é a grande estrutura invisível de apoio ao Estado na resposta social. Este setor tem crescido em oferta e profissionais, reúne (dados de 2020) quase 74 mil entidades e emprega cerca de 244 mil pessoas. Mas continua a apresentar fragilidades e riscos ao nível da gestão e da sustentabilidade.
E como construímos a mudança?
Fruto da parceria entre a Fundação ”la Caixa”, o BPI e a Nova School of Business & Economics (Nova SBE) nasce em 2019 a “Iniciativa para a Equidade Social”, uma parceria para impulsionar o setor social em Portugal, e neste contexto, o programa “Liderança Social para Gestores”, que visa empoderar as Direções das organizações sociais, criando conselhos consultivos com executivos de diferentes perfis e muita experiência no setor privado.
E como podem executivos do setor privado, contribuir para esta mudança?
Partilhando os seus conhecimentos, o seu tempo, a sua network. Partilhando as boas práticas de gestão do setor privado e contribuindo para a sua adaptação a esta realidade especifica.
E que tipos de mudança estamos a levar para as organizações sociais?
Se pudermos definir quais as competências a reunir para formar conselhos consultivos, começaria por dizer que a prioridade é um pensamento estratégico para a gestão, que permita orientar as decisões, tornar clara a Visão e manter foco na Missão da organização. Se juntarmos competências em controlo de gestão (adaptada à realidade da organização) vamos ajudar a organização a reorganizar-se, o que permitirá dar mais à comunidade que serve. A este conjunto de competências, juntaria conhecimentos de marketing, visão de mercado, visão comercial. Esta é uma área chave pois são conhecimentos que contribuem para otimizar a forma como as organizações sociais leem o seu mercado e comunicam, interna e externamente. O que nos leva diretamente à importância de juntar ao conselho consultivo alguém com conhecimentos de comunicação. E falamos, não apenas nas formas atuais de comunicar (redes sociais), mas de alguém com a capacidade de contribuir para uma narrativa positiva, que atraia donativos, voluntários e parceiros. Importa desenvolver uma comunicação que alcance toda a Comunidade (e não apenas os utentes e as suas famílias). E porque uma boa organização pressupõe uma boa governance ,transparente e adequada, não poderei deixar de recomendar a participação de alguém com competências jurídicas. E será muito interessante se conseguirmos ainda juntar outras competências, fundamentais em qualquer conselho consultivo: transformação digital, gestão de pessoas, coaching, sistemas de gestão de qualidade, contabilidade, gestão de risco. Diria que, as competências que são fundamentais nas empresas privadas são-no também para as organizações sociais. Cada organização social deve identificar quais são os perfis que completam as competências que tem “in-house” e decidir como deve ser constituído o seu Conselho Consultivo.
Esta é uma das nossa formas de contribuir para criar Impacto Social: criar conselhos consultivos. Demos início ao programa em 2019 na Nova SBE. Em 2023 alargámos o território do programa para o Porto, numa parceria com a Católica Porto Business School e esperamos alargar ao sul já em 2024. Já passaram nas 7 edições da formação (Nova Sbe e Católica Porto Business School) mais de 140 executivos e foram constituídos 35 conselhos consultivos. O que queremos para o Futuro é desenvolver esta comunidade e fortalecer o ecossistema de transformação entre conselheiros, organizações sociais, académicos, alunos, oradores, governo local. Continuamos convictos de que todos aprendemos com todos, e que os gestores sociais têm muito para ensinar aos gestores empresariais (a mudar!).*
* Paulo Bastos, in O que o gestor social pode ensinar ao gestor empresarial (sapo.pt)
- Dados do relatório “Portugal, Balanço Social 2022”
- “Iniciativa para a Equidade Social”
-“Liderança Social para Gestores”: aqui e aqui
**Este artigo faz parte de uma série de publicações produzidas no âmbito da parceria com o Nova SBE Leadership for Impact Knowledge Center.