A grande maioria das associações nasce da vontade de uma pessoa ou de um pequeno grupo de pessoas que partilham o mesmo interesse em apoiar uma determinada causa. No fundo as associações procuram preencher as lacunas onde o apoio público não chega ou ainda não existe.
O enquadramento oficial e legal numa associação sem fins lucrativos, permite-nos dar maior transparência ao nosso trabalho, pode ajudar-nos na angariação de fundos e na comunicação e no marketing da nossa causa.
O processo burocrático da criação de uma associação sem fins lucrativos é bastante fácil e pode ser feita praticamente na hora. Existem modelos standard para estatutos na internet e com a ajuda de um advogado podemos fazer a escritura da constituição da associação simplesmente com a presença de dois associados. Existe um número mínimo de nove associados para os órgãos sociais da associação, nomeadamente 3 para a Assembleia Geral – o presidente, o secretário e o vogal da Assembleia Geral; 3 para a direção - novamente um presidente, um secretário e um vogal; e outros 3 para o conselho fiscal - um presidente e dois vogais. Existem também modelos com onze membros para os órgãos sociais, nesse caso contamos com cinco elementos na direção da associação.
É importante refletir bem sobre o mix de competências que precisamos, para garantir que as pessoas que convidamos a integrar os órgãos sociais da nossa associação possam, cada um, dar contributos importantes e significativos para o desenvolver do nosso trabalho, para ultrapassar dificuldades ou até para abrir portas para futuras parcerias ou apoios financeiros.
Não existe um limite de associados, nem regras obrigatórias sobre joias ou quotas a pagar na associação.
Dados esses passos burocráticos é continuar a fazer o que já fazíamos antes: procurar estabelecer parcerias, divulgar o nosso trabalho, encontrar apoios financeiros públicos ou privados e tentar chegar cada vez mais longe.
Verifico que passado quatro anos após a constituição da associação que ajudei a criar chegamos a um ponto de reflexão: o nosso trabalho é inteiramente voluntário e o volume de projetos tem aumentado – como sustentar o crescimento? Já recorremos a ajuda legal remunerada, pois o apoio jurídico pro-bono de um dos associados raramente chegou a tempo. Desde o primeiro ano da constituição temos também o custo fixo com a contabilidade, a criação e manutenção do site e os custos bancários – sinceramente não me parece possível realizar um bom trabalho sem ter alguns custos fixos mínimos. No nosso caso temos a sorte de ter membros nos órgãos sociais que contribuem com apoio financeiro para minimizar estes custos.
"passado quatro anos após a constituição da associação que ajudei a criar chegamos a um ponto de reflexão: o nosso trabalho é inteiramente voluntário e o volume de projetos tem aumentado – como sustentar o crescimento?"
O que nos tem preocupado mais é o receio de ficarmos demasiado mergulhados no dia a dia da associação, e o risco é grande de deixarmos de ver a árvore por ser tanta a floresta à nossa volta. Vejo que são sempre as mesmas pessoas que participam em todas as reuniões e que fazem a grande maioria do trabalho...
Chegou a altura de renovação e mudança, apercebemo-nos da importância de haver mandatos para os cargos de direção e outros. A rotação das responsabilidades é fundamental, uma associação nunca deveria depender demasiado de um grupo pequeno de pessoas, correndo o risco de desaparecer no dia em que esse grupo decide já não fazer parte do projeto!
Não vai ser um processo de mudança rápido, mas o que importa é iniciá-lo. Decidimos criar um conselho estratégico que nos vai ajudar a pensar, inclusive temos a esperança de que alguns elementos desse conselho possam vir a integrar no futuro uma nova direção, para além de enriquecer a reflexão e discussão nas reuniões gerais da associação. Vamos procurar ter um grupo misto tanto em idades como em género, vamos procurar pessoas com experiências profissionais diferentes, mas queremos ter membros nesse conselho que têm disponibilidade e tempo de se juntar à nossa causa.
"Não vai ser um processo de mudança rápido, mas o que importa é iniciá-lo. Decidimos criar um conselho estratégico que nos vai ajudar a pensar"
Tenho reparado num grande número de associações sem fins lucrativos que são geridas cada vez mais de forma profissional, procurando integrar nos seus órgãos sociais elementos vindos do sector privado. Há uns vinte anos atrás essa mistura entre sector social e privado quase não acontecia, e do lado das associações era muitas vezes rejeitada e rotulada como negativa. Com a crescente preocupação das empresas no que diz respeito a responsabilidade social, vejo um enorme potencial de encontramos ajuda e parceiros para a gestão das associações que nos vão facilitar muito o nosso dia a dia!