Como podem as “pequenas” organizações medir o seu impacto?

Como podem as “pequenas” organizações medir o seu impacto?

Como podem as “pequenas” organizações medir o seu impacto?

O impacto social caracteriza-se pelo conjunto de mudanças que ocorrem no seguimento de uma intervenção no âmbito de um projeto, de um programa ou de um serviço. Pode ser positivo, com mudanças benéficas para a vida das pessoas (por exemplo, aumento do sucesso escolar), negativo, com ocorrência de aspetos menos positivos na vida de um grupo (por exemplo, perda de identidade local), não intencional, com mudanças a ocorrer que não eram desejadas ou até pensadas numa fase inicial, ou propositado, onde os resultados alcançados e as mudanças ocorridas estavam previstas.

E pode ser medido por grandes ou pequenas organizações. Sabemos, claro, que as pequenas organizações têm mais dificuldade em reunir as condições necessárias para uma medição de impacto eficaz. Como principais entraves para isto, podemos elencar alguns fatores, como a falta de tempo, a falta de recursos, os custos dispendiosos, a escassez de competências técnicas relacionadas com medição de impacto, a complexidade, muitas vezes, associada ao processo de medir o impacto e o medo dos resultados não corresponderem à expectativa.

Neste artigo, vamos explorar os entraves com sugestões práticas para que as organizações consigam iniciar o processo de medição de impacto dos seus projetos, programas e serviços.

  1. Quem faz não pode ser quem mede. Muitas das vezes, o gestor da iniciativa que será alvo de medição de impacto assume que tem de estar envolvido no processo de medição de impacto. Numa organização é importante encontrar a pessoa que fique, parcial ou totalmente, responsável por esta área. E esta pessoa não deve ser a que implementa e intervém junto dos beneficiários. Porquê? Porque isso pode levar a um enviesamento dos dados. Sugestão: reflita sobre uma pessoa da sua organização que não esteja afeta ao projeto e que possa realizar recolha de dados junto dos beneficiários. Assim, garante que os dados recolhidos não serão enviesados.
  2. A medição de impacto não tem obrigatoriamente de ser complexa. A medição de impacto pode ser encarada, por muitos, como um processo extremamente complexo. A verdade é que, como todos os processos, tem inerente a si alguma complexidade, contudo, a literatura atual (recomendamos o livro "Impact First" de Heidi L. Fisher) indica-nos alguns passos para o processo ser mais simples: definir uma metodologia, desenhar a teoria da mudança, escolher os instrumentos de recolha de dados (utilizando, por exemplo, escalas validadas), compreender como será feita a recolha de dados e o seu tratamento, e refletir como será comunicado o impacto (de forma real e próxima de todos – investidores, comunidade, beneficiários, equipas, direções). Estas são algumas das formas que podem ajudar a simplificar o processo – o mapeamento e o planeamento aqui são fundamentais. Sugestão: antes de iniciar o processo, realize um mapa de impacto ou a teoria da mudança, onde sistematiza os recursos, as atividades, os resultados esperados, a curto e médio prazo, e o impacto. Pode também colocar timings e responsáveis.
  3. A gestão de impacto pode ser interna e externa. Uma das queixas mais frequentes das pequenas organizações é a questão financeira associada aos processos de medição de impacto. Para que não fique tão dispendioso, pode recorrer-se parcialmente a uma entidade externa, que apoia com know-how em temas de maior especialização, como a metodologia ou a definição de indicadores. Sugestão: pode optar-se pela contratação de uma entidade externa para definir a metodologia e desenhar a teoria da mudança, mas ter recursos humanos com competências técnicas internas capazes de recolher, tratar e comunicar os dados.
  4. A capacitação pode e deve ser uma opção. As competências técnicas associadas à medição de impacto são bastante específicas, não estão relacionadas a 100% com nenhuma área académica, são mais um conjunto de ferramentas de diferentes áreas (estatística, psicologia, sociologia, gestão, etc.). Para isso, é importante as equipas estarem capacitadas, através de formação. Sugestão: existem vários cursos de maior ou menor duração sobre o tema, desde cursos online a cursos mais intensivos.
  5. A gestão de expectativas é crucial. Por último, mas muito importante, temos de referir a gestão de expectativas. Associado ao medo dos resultados não serem “positivos” está a gestão, que é necessária, das expectativas criadas com estes processos. Trabalhamos com pessoas e, por isso, os resultados da nossa intervenção podem, sempre, ser inesperados e variarem conforme os contextos. Especialmente quando trabalhamos com públicos vulneráveis, como crianças em situação de risco, idosos em isolamento social ou pessoas com deficiência e que estejam fora da vida ativa. Exemplo: é importante definir bem os indicadores de impacto. Indicadores realistas com abordagens mais qualitativas ajudam a gerir expectativas.

Em 2020, Portugal contava com 73 851 entidades de economia social. Muitas destas entidades transformam positivamente as suas comunidades e a vida das pessoas com quem trabalham. É por isso importante que este impacto seja mapeado e que consigamos compreender a sua real dimensão.

A IRIS, enquanto entidade formadora e certificada pela DGERT, apela, nos seus cursos de gestão de impacto, a que as organizações da economia social procurem medir e comunicar o seu impacto, de forma prática e alinhada com os seus públicos-alvo.

Para isso, estas iniciativas têm de conseguir medir e comunicar o seu impacto. Este artigo é para todas as “pequenas” organizações. A medição de impacto também é para vocês. O vosso impacto merece ser medido e comunicado.

Logo_IRIS_Incubadora_Cores